Por Mário Igor Sul
Há pouco tempo no Brasil começou-se a ouvir a palavra bullying, de origem inglesa e que ainda não possui uma tradução concreta para o português. Até então, toda a problemática do assunto abordado por este novo termo era encarado como “brincadeira de criança” e a escola e a família ainda não tinham acordado para a amplitude dos efeitos negativos, tanto físico quanto psíquicos, do bullying. Hoje estudos apontam esse tipo de violência como um dos fatores que levam alguns jovens a cometer suicídio.
O bullying caracteriza todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem nos ambientes sociais, onde uma pessoa ou um grupo cometem violência verbal, física ou sexual contra outros, segundo o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Geralmente as vítimas são crianças e adolescentes com dificuldades de se relacionar socialmente e que possuem características consideradas “incomuns” pelos agressores, como por exemplo, a cor da pele, obesidade, classe social, sotaque e timidez. De acordo com Aramis “para os alvos de bullying, as conseqüências podem ser depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinqüentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”. Hoje também se sabe que essas atitudes também são praticadas no trabalho, e podem fazer adultos e idosos de vítimas também, podendo causar nestes os mesmos efeitos destrutivos que ocorrem nas crianças.
O psicólogo Piettro Lamonier, que realiza trabalhos no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Palmas, explica que ainda não há um levantamento ou registro oficiais sobre a prática do bullying no Estado do Tocantins, mas é convicto de que “não estamos de fora deste problema”, diz. Os CAPS são unidades de atendimento intensivo e diário aos portadores de sofrimento psíquico grave, e Lamonier afirma que já acompanhou tratamentos de crianças onde os psicólogos observaram que elas sofriam com o bullying, porém nunca admitiam. A orientação que é dada aos pais das vítimas é de não minimizar o problema quando forem conversar com seus filhos, pois o diálogo é decisivo na hora de tratar esse mal. É importante ouvir a criança, explicar para ela sobre o que é o bullying e fazer com que o jovem sinta confiança o suficiente para lhe contar qualquer violência sofrida. Jamais se deve interrogar a vítima ou achar que a culpa é do adolescente ao imaginar que ele é sensível de mais ou incapaz de se defender, Conclui o psicólogo.
Vindo de uma família pobre e tendo estudado em escolas públicas, o administrador Pedro Mário Vieira, 41, desabafa dizendo que passou por algumas situações de bullying, mas que somente hoje compreende a dimensão da violência e toma todos os cuidados com seus dois filhos, Mariano, 17 e Joice, 13. “Na minha época quem se sentia magoado com isso era taxado de marica e as brincadeiras de mau gosto só aumentavam”, explica. Para a socióloga e vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas — Brasil, Miriam Abramovay, a prática do bullying não é o que existe no país. “O que temos aqui é a violência escolar. Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”, opina a coordenadora.
Independentemente da divergência entre os conceitos de cada pesquisador, o bullying é uma agressão que deve ser cuidadosamente prevenida dentro dos ambientes sociais, principalmente nas escolas. Para isso, os pais devem procurar saber mais sobre o assunto e manter um diálogo constante, uma relação de proximidade e confiançacom seu filho, para que o jovem não sofra em silêncio e passe por todas essas agressões sem qualquer amparo e supervisão. Já existem blogs e comunidades que recebem denúncias das vítimas e orientam a criança e o adolescente sobre o que devem fazer para escapar do tormento. Uma brincadeira só tem graça quando traz em si um sorriso verdadeiro de felicidade, pois quando há humilhação, perseguição e sofrimento é bullying.